Tô pra escrever sobre esse seriado há milênios mas nunca rola, vem uma coisa ou outra e me esqueço, mas hoje é dia. Já viu aquele seriado que abala suas estruturas? aqueles personagens que te acompanham e te seduzem completamente? Esse é The Fall. O elenco é bom, bom pra caramba, mais do que consistentes os personagens são verossímeis ao cúmulo, não fosse a protagonista ser perfeita demais, para ser normal, o seriado não teria para mim qualquer suspensão da realidade. 

 

Já que mencionei a protagonista comecemos por ela. Alguém pode me dizer como pode existir um personagem tão sexy, inteligente e envolvente? caralho! Assistindo ao seriado não sei se quero convidá-la pra sair, ser sua melhor amiga e ser ela, não como ela, ser ela! ela!

 

A atriz é a Gillian Anderson, talentosa e super conhecida por X-files e Sex Education, mas The Fall é, na minha opinião, seu melhor trabalho por causa da Stella Gibson. Ela me lembra a femme fatale criada pelo cinema noir, a diferença é o toque de modernidade dado por sua liberdade intelectual e sexual. 

 

Compará-la com a femme fatale do cinema noir talvez não seja a melhor escolha, mas sou incapaz de pensar em outras personagens femininas que sejam tão inteligentes e sexys. Outra coisa é que essa femme não se esconde na posição de coadjuvante, ela é a gata caçando o ratinho Paul Spector, brilhantemente, interpretado por Jamie Dornan. Falando nele. Infelizmente não peguei a febre 50 tons de cinza na época, teria sido melhor, somente vi o sucesso de bilheteria depois de conhecer The Fall, ou seja, enquanto a maioria das pessoas está excitada vendo o sexy Christian Grey seduzir a linda Anastásia eu estou do outro lado da tela gritando: corre mulher! fuja do maluco!! 

Não é culpa do ator que está excelente nos dois papéis, e definitivamente consigo separar uma coisa da outra, mas é que Paul Spector é um sujeito tão intrigante, transtornado, odioso e cativante ao mesmo tempo, tão complexo que não tem como olhar para o Dornan e não lembrar dele estrangulando a advogada Annie Brawley. Aproveitando que falei do Dornan quero dizer que amo a língua do show. 

A narrativa se passa em Belfast, capital da Irlanda do Norte mas o show é em inglês, que sotaque massa gente, sério! Poderia passar o dia ouvindo e tentando imitar, adorei as voltas que a língua dá, ói, ai kkkkk e eu que achava que escocês falando inglês era a coisa mais legal que tinha me enganei. O ritmo da fala é intimidador, é um sotaque inglês hostil que caiu como uma luva na proposta do seriado, sem falar que contrasta com a sofisticação e a delicadeza que a investigadora britânia Stella Gibson deita em cada fala.

Uma das paradas mais legais do show, certamente, é o lugar do discurso, como o assassinato de mulheres é uma característica pandêmica do machismo, só posso dizer que a escrita do texto é brilhante. O tema é abordado de maneira pesada na morte delas, ao mesmo tempo diluída como se fossem assassinatos comuns, mas não, não é só isso. 

Como todo "bom" sociopata, ou seria psicopata?, ele tem um passado terrível e foi vítima de abuso sexual no orfanato, o garoto estuprado repetitivamente pelo padre cresceu para libertar sua ira nas mulheres. Invadir casas, cheirar lingerie, tocar brinquedos sexuais, pintar as unhas dos cadáveres, fazer fotos dos corpos sem vida... tudo reflexo de uma mente vítima de misoginia que vive para alimentar a mesma.

 

Intocáveis homens, certo? Seria injusto de minha parte diminuir os problemas psicológicos do assassino do show, mas grosso modo é a melhor apresentação que posso fazer. Outra coisa de que gosto bastante no show é o grau de verdade, o personagem teve uma infância terrível, infernal, mas ele não é capaz de reconhecer sua obsessão em matar mulheres como resultado da misoginia. 

O modo como a psiquê de Paul é tratada por Stella deixa o seriado ainda mais verossímil. Ela é mulher, existe empatia com as vítimas e o distanciamento característico do comportamento investigativo vai ficando de lado. Não sei o que passa na sua cabeça enquanto me lês mas tenho certeza de que nada do que estou dizendo, nada, substitui sua própria audiência ao show, você precisa ver!

Sei que algumas pessoas costumam se ver atraídas pela brincadeira de gato e rato estabelecida entre eles, interessante é, claro que sim, mas sabemos de quem se trata desde o início, o barato do show é ver que cada personagem tem seu próprio problema, como cada uma das realidades é, de alguma maneira, afetada pelo machismo. O seriado só tem uma coisa chata, deixa eu me corrigir, não é chata, propriamente, porque não tem nada de chato alí, mas quero dizer que é aquele tipo de problema muito na cara.

Como todo bom psicopata, gostei da expressão! ele é atraente, querido e envolvente, sexy mesmo, razão mais do que suficiente para ter uma adolescente apaixonada atrás de si o tempo todo, é esse o ponto que me incomodou um pouquinho, muito na cara. Em todo o caso é divertido ver a manipulação de um homem mais velho sobre uma garota tolinha, porque não demora muito a mina é usada por ele, obviamente preenchendo o vácuo que deixou o pai, morto num acidente de moto. Enfim, analítico de cima abaixo, acho que o Frasier iria adorar o show. 

Do ponto de vista narrativo tenho milhões de elogios sobre como a história é contada. Associar o passado do assassino às ações de hoje como se fossem um indício do que estaria por vir com certeza proporcionou à terceira temporada surpresas e um sabor a mais já que a história caminhava para a solução. 

Alguém, pela madrugada, me diz o que eu tava fazendo da vida que não vi o seriado na época em que era exibido? é só por que era Irlandês? demorou a chegar pelas minhas bandas? mas tudo bem porque acho que na época eu meio que tava completamente apaixonada por House então é perdoável, House M.D é outras desses séries para a vida toda. Não fica só confiando em mim, cola comigo mas corra e assista porque The Fall é muito, muito bem escrito!