Na infância amava tomar o licor caseiro de caju que minha avó fazia. Docinho, gostinho de fruta e um pouquinho de álcool ao fundo... dava pra tomar o trem de uma vez, pena que ela não deixava (afinal eu era pirralha né??). Guardei na memória a lembrança boa de vê-la cozinhar, o cheiro do preparo de caju emanando pela casa e a sensação de suor e vapor quente vindo da cozinha. Lembro de quase tudo, mas minha parte preferida era vê-la encher a garrafa. Colocar a bebida pronta dentro do recipiente cheio de cravos, o líquido quente e escuro descendo pelo funil e encontrando os cravinhos que subiam para a borda quase transbordando. O cheiro doce que subia desse contato, minha avó esbaforida de calor e suor, mas feliz porque tinha ficado do jeito que ela queria... Guardo esses dias com muito carinho na memória, minha avó e suas comidinhas... Não é correto provar o licor logo que pronto porque trata-se de uma bebida que precisa maturar, por isto ela deixava a bebida por dias guardada em lugar protegido da luz, mas finalmente chegava o dia de abrir (graças à Deus aparecia alguma visita!) ah, como era bom!! Como criança eu tinha permissão para tomar somente um copinho, mas me aproveitava de seu bom coração e tomava um pouquinho quase todos os dias, era preciso aproveitar enquanto durava (ela não fazia muito, sniff, sniff!). 



Cresci curtindo a experiência de ver e ajudá-la na preparação de licores e em homenagem a essa memória mais do que feliz, decidi que era hora de estrear um licor aqui no blog, infelizmente aqui na cidade não encontro caju em quantidade o suficiente para fazer um licor como era o dela (gente minha avozinha continua viva tá, ela só não faz mais licor), por isto fui à procura de receitas para frutas que consigo encontrar com facilidade. Tô aqui cruzando o coração e prometo que farei um licor de caju, à altura da minha lembrança ou pelo menos vou tentar, como se não houvesse amanhã!! Esse foi o primeiro mas pretendo investir nessa culinária da maturação, entendi que o barato dessa bebida é arrancar o máximo de sabor da fruta em questão. O álcool deve ser escolhido para combinar com a fruta e não deve se sobressair, o essencial é que a porcentagem alcoólica seja bem concentrada, como vodca ou cachaça jovem. Das receitas que encontrei preferi aquelas que ficam meio a meio entre álcool e calda de açúcar, optei pela laranja paulista porque gosto do sabor, mas sua casca fininha dá um trabalho insano pra descascar sem tocar na parte branca (todo o cuidado é pouco porque a parte branca trará um amargor horrível pra receita!!). Partiu receita?


Receita projeto banquete com adaptações
Ingredientes

Cascas de 12 laranjas maduras e saudáveis;
1 xícara de açúcar;
1 xícara de água;
1 xícara e meia de vodca;
1 garrafa de vidro com tampa ou boa rolha para vedação, a garrafa deve receber 1 ou 1,5 litro de líquido (Esterilizada, ok?).






Modo de preparo

Lave bem as laranjas e descasque a parte amarela com cuidado, como não tenho descascador de legumes e tava sem ralador eficiente na época, fiz com uma faca afiadíssima, mas aviso que é trabalho dificílimo porque é importante que não haja nenhuma lasquinha da parte branca da casca. Demorou uma centena de anos, descartei várias tirinhas, mas enfim terminei! 

Misture água e açúcar e cozinhe em fogo baixo até que este último tenha se derretido por completo, desligue o fogo e deixe a mistura esfriar completamente. Coloque as cascas de laranja no vidro, que fora previamente esterilizado com água fervente, acrescente a vodca e a mistura de água e açúcar. Tampe bem e guarde em local escuro por pelo menos 3 semanas antes de abrir (esperei um mês e uma semana). Quanto mais velho mais sabor de frutas teu licor terá e como ele fica bem bonito acho que é uma ótima opção de presente. Abs. gente, fui!!